Páginas

domingo, 11 de março de 2012

A SAGA DE DUAS MORAIS NOS STATES


Tudo começou quando Wilmara, que é minha prima, e Cláudio se casaram e foram morar nos Estados Unidos.  Precisamente no interior dos Estados Unidos no estado do Colorado, na cidade de Golden.  Tiveram que ir para lá porque Cláudio foi fazer Doutorado e Wilmara o acompanhou. Isto foi em 1989 e a ida de um Morais para terras tão distantes e tão importantes nos deixou em polvorosa. Teve festa de despedida e até alguém que presenteou o casal com uma muda de Pau Brasil... Como se aqui a gente encontrasse esta árvore em toda esquina.

Bom, particularidades à parte, o lindo casal partiu e aí eram cartas e mais cartas trocadas (porque naquela época a internet não era tão disseminada assim e era costume escrever e enviar cartas pelo correio). Teve uma vez que a Wilmara se gravou em uma fita cassete contando casos seus de lá, como se fosse uma carta falada. Reunimos-nos como se fosse uma festa, na casa de tia Nicinha para ouvirmos todos juntos à fita.

Bom, o tempo passou, Wilmara ficou grávida e ao chegar mais ou menos no 5º mês de gravidez pediu à tia Nicinha, sua mãe, que fosse ao seu encontro, pois gostaria de tê-la junto quando o neném nascesse. Tia Nicinha, para não enfrentar esta maratona sozinha, resolveu chamar minha mãe para acompanhá-la. Começava aí a maratona das duas Morais rumo aos States.

Minha mãe no início ficou receosa:

_ Como eu vou? Eu não tenho dinheiro, não sei falar uma palavra de Inglês?!!!

Mas a família toda pôs fogo na mamãe, principalmente a vovó:

_ Não Zezé, você vai sim! Eu te ajudo, te dou um pouco de dinheiro, você tem que ir.

E assim todos os irmãos se prontificaram, cada um doando um pouquinho para que a mamãe pudesse acompanhar Tia Nicinha em tão sonhada aventura. Tiraram o passaporte, compraram as passagens e se prepararam para o grande dia.

O Cadu, que não é Morais, e, sendo assim, não nos entende, ficou apavorado com a atitude da mamãe.

_ Vocês são doidos!!!! Como sua mãe vai fazer esta viagem sem um tostão no bolso?????  Meu Deus!!! Eu não faria isso nunca!!!

E eu rindo respondia:

_ Ela é que está certa. Todo mundo ajudou, ela vai e nós não vamos nunca, você vai ver. Tem que aproveitar mesmo!

E aí chegou o grande dia. Para começar foi uma caravana da família até Confins para a despedida. Confins, naquela época, tinha pouco movimento então imaginem a cena: aquele monte de gente chorando, dando tchau... O Cadu, novamente, ficou afastado de todos para não se comprometer com tamanho mico. Mas mico de Morais não é mico, é um ato meio dramatizado que só Morais entende e não acha que é mico.

Então as duas entraram na sala de embarque e nós fomos embora para nossas casas. Aí verdadeiramente começa a saga das duas. Tia Nicinha nunca tinha viajado de avião e estava muito apreensiva. O avião iria para São Paulo e de lá para os States fazendo primeiro uma escala em Miami e daí para Denver. Ao levantar vôo de Confins o comandante notou que havia um problema e, no alto falante, disse que estavam com um pequeno problema de pressurização e, sendo assim, seria melhor retornar ao aeroporto para o conserto da aeronave. Esta foi a deixa para Tia Nicinha que já estava para lá de nervosa se expressar. Ela agarrou a mão da mamãe e, em alto e bom som, disse:

_ Não te falei Zezé? Cante comigo: “Eu confio em Nosso Senhor....”

E na hora em que o avião aterrissava: “Nossa aterrissagem será abençoada.....”

Resolvidos os problemas elas finalmente partiram rumo ao estrangeiro. Eu, particularmente, e acho que todos também, ficamos aqui apreensivos pensando em como seria na hora em que chegassem a Miami, porque o avião faria sua escala em Miami. Nenhuma das duas falava nada de nada de inglês e imaginei que iriam ter alguma dificuldade, mas não. Em Miami não. Só que o avião faria outra escala em Dallas que elas não sabiam. E, quando aconteceu esta escala onde todos os passageiros desceram, uma olhou para a outra e ficaram sem saber se desciam também ou não. Resolveram perguntar para a aeromoça... Mas perguntar como?????

_ Este avião (com gestos com as mãos imitando um avião) vai para Denver???

_ What?

_ D E I N V E E E R R R!!!!!!! Temos que descer também?

_ I don’t understand

Este diálogo prosseguiu e não havia jeito da aeromoça entender se era para as duas descerem ou não. Até que veio uma luz e tia Nicinha resolveu pegar uma revista que tinha Denver na capa e mostrou para ela.

_ Oh Danveer (mais ou menos como se pronuncia), no, no, sit, sit, next stop.

Finalmente desembarcaram sãs e salvas. Wilmara e Cláudio as esperavam satisfeitos. Wilmara com uma câmera na mão filmando tudo. Como era início de março estava muito frio, mas o frio não as incomodou nem um pouco, elas estavam preparadas. Wilmara e Cláudio não cabiam em si de tanto contentamento.

Como ainda faltava um tempinho para Gabriela nascer, resolveram aproveitar. Viram a neve cair, fizeram anjos na neve, escorregaram com tábuas, fizeram bonecos, enfim viraram crianças. Parece-me que teve uma vez que Wilmara se descuidou e quando assustou estavam as duas lá fora com a neve na mão querendo provar.

- Saiam daí as duas!!! Cachorro faz xixi aí!!!!

Gabriela resolveu nascer antes, não quis esperar nem o seu chá de bebê e com Wilmara no hospital e Cláudio estudando começaram os problemas. Elas tinham no apartamento o nº do telefone do hospital e o nº do quarto para qualquer eventualidade, então, um belo dia, precisaram de atum e não sabiam o que era atum na despensa. Tia Nicinha, muito sabichona resolveu ligar para o hospital. Atenderam e ela falou:

_  Rrruuuummm tchu tchu uam (Room 221)

_ Whaat?? (de novo)

Mas para ela a moça do outro lado falou alguma coisa assim:

_ blaubluwxoegoiehlohorhoejajfoeyh!!!

Ao que ela muito bravamente respondeu:

_ Ahn??? Ah! Wilmara!!! ( Wilmara em inglês, por sinal)

Nem imagino o que a recepcionista falou, mas parecia histérica e tia Nicinha entendeu isso:

_ wxyhblublaloaitnhailanhohoaoelroaodjçanhfoiahej!!!

_ Ah! Morais Sorice! (Ela deve estar perguntando o sobrenome...Pensou tia Nicinha)

_ A recepcionista falou: wrwrwrwrrwrwwrruurueu!

Aquele negócio estava ficando complicado, então ela resolveu encerrar por ali mesmo dizendo:

_ Tankiuuuuu!!!!

E desligou o telefone.

Me parece que as duas deram um jeito e conseguiram achar o atum para fazer o que queriam mas morreram de rir do ocorrido porque  as duas não ficavam vexadas não. Aliás, minha mãe chegou a comentar com Tia Nicinha que morria de pena do povo de lá que parecia, tinha muita dificuldade em falar com toda aquela língua enrolada.

Acharam também muito engraçado alguns costumes como só ir às compras de carro. Os supermercados eram um pouco longe e também estava muito frio para todo mundo andar a pé, mas para D. Nicinha e D. Zezé o frio não era barreira. Iam a pé mesmo. Teve uma vez que compraram comida em um supermercado e resolveram comer o lanchinho em uma praça. Só tinha as duas e tia Nicinha comentou:

_ Nossa Zezé, imagina se o Cláudio passar por aqui e nos ver vai pensar: “coitada da minha sogra, tão pobrezinha que tem que comer na rua... E davam gargalhadas delas mesmas. Parece que foi neste mesmo dia que, passeando chegaram a um Drive Thru. Como não sabiam o que era aquilo, é lógico, foram investigar e, ao passar pelo local de fazer o pedido, uma voz falou algo no alto-falante e as duas saíram correndo.

_ Corre Zezé, eles vão nos multar porque estamos pisando na grama!!!! O Cláudio não pode saber nunca disso senão ele vai ficar com raiva da gente!!!

E as duas saíram correndo mesmo. Pareciam duas crianças travessas.

Foram também a um cassino e mamãe jogou 1cent e a máquina começou a jorrar moedas. Ela ganhou 40 dólares. Com medo de ficar viciada parou por aí. Foram ao Gran Canyon, provaram churrasco de americano, compraram, compraram, compraram; tanto que na hora de vir embora e fechar as malas foi uma luta.

As histórias são muitas e eu ficaria aqui o dia inteiro digitando para contar. O que eu sei é que as duas falaram que voltaram mesmo a ser crianças e mesmo não gostando nem um pouco da comida (nem da batata, pasmem!) adoraram tudo o que fizeram. As duas não tinham dinheiro, não sabiam e não sabem falar uma vírgula de inglês e, foram e voltaram sãs e ilesas de tamanha aventura. Nós, pobres Morais mortais continuamos por aqui não é mesmo? E com todo o mico e situações inusitadas sinto muitas vezes um pouquinho de inveja e muito, muito orgulho dessas duas Morais que a seu modo chegaram e arrasaram nos States.





Um comentário:

  1. ah! elas são q nem o Bratz ... adoro estas aventuras e nunca me dei mal ... parabéns a elas ...

    ResponderExcluir