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domingo, 11 de março de 2012

A SAGA DE DUAS MORAIS NOS STATES


Tudo começou quando Wilmara, que é minha prima, e Cláudio se casaram e foram morar nos Estados Unidos.  Precisamente no interior dos Estados Unidos no estado do Colorado, na cidade de Golden.  Tiveram que ir para lá porque Cláudio foi fazer Doutorado e Wilmara o acompanhou. Isto foi em 1989 e a ida de um Morais para terras tão distantes e tão importantes nos deixou em polvorosa. Teve festa de despedida e até alguém que presenteou o casal com uma muda de Pau Brasil... Como se aqui a gente encontrasse esta árvore em toda esquina.

Bom, particularidades à parte, o lindo casal partiu e aí eram cartas e mais cartas trocadas (porque naquela época a internet não era tão disseminada assim e era costume escrever e enviar cartas pelo correio). Teve uma vez que a Wilmara se gravou em uma fita cassete contando casos seus de lá, como se fosse uma carta falada. Reunimos-nos como se fosse uma festa, na casa de tia Nicinha para ouvirmos todos juntos à fita.

Bom, o tempo passou, Wilmara ficou grávida e ao chegar mais ou menos no 5º mês de gravidez pediu à tia Nicinha, sua mãe, que fosse ao seu encontro, pois gostaria de tê-la junto quando o neném nascesse. Tia Nicinha, para não enfrentar esta maratona sozinha, resolveu chamar minha mãe para acompanhá-la. Começava aí a maratona das duas Morais rumo aos States.

Minha mãe no início ficou receosa:

_ Como eu vou? Eu não tenho dinheiro, não sei falar uma palavra de Inglês?!!!

Mas a família toda pôs fogo na mamãe, principalmente a vovó:

_ Não Zezé, você vai sim! Eu te ajudo, te dou um pouco de dinheiro, você tem que ir.

E assim todos os irmãos se prontificaram, cada um doando um pouquinho para que a mamãe pudesse acompanhar Tia Nicinha em tão sonhada aventura. Tiraram o passaporte, compraram as passagens e se prepararam para o grande dia.

O Cadu, que não é Morais, e, sendo assim, não nos entende, ficou apavorado com a atitude da mamãe.

_ Vocês são doidos!!!! Como sua mãe vai fazer esta viagem sem um tostão no bolso?????  Meu Deus!!! Eu não faria isso nunca!!!

E eu rindo respondia:

_ Ela é que está certa. Todo mundo ajudou, ela vai e nós não vamos nunca, você vai ver. Tem que aproveitar mesmo!

E aí chegou o grande dia. Para começar foi uma caravana da família até Confins para a despedida. Confins, naquela época, tinha pouco movimento então imaginem a cena: aquele monte de gente chorando, dando tchau... O Cadu, novamente, ficou afastado de todos para não se comprometer com tamanho mico. Mas mico de Morais não é mico, é um ato meio dramatizado que só Morais entende e não acha que é mico.

Então as duas entraram na sala de embarque e nós fomos embora para nossas casas. Aí verdadeiramente começa a saga das duas. Tia Nicinha nunca tinha viajado de avião e estava muito apreensiva. O avião iria para São Paulo e de lá para os States fazendo primeiro uma escala em Miami e daí para Denver. Ao levantar vôo de Confins o comandante notou que havia um problema e, no alto falante, disse que estavam com um pequeno problema de pressurização e, sendo assim, seria melhor retornar ao aeroporto para o conserto da aeronave. Esta foi a deixa para Tia Nicinha que já estava para lá de nervosa se expressar. Ela agarrou a mão da mamãe e, em alto e bom som, disse:

_ Não te falei Zezé? Cante comigo: “Eu confio em Nosso Senhor....”

E na hora em que o avião aterrissava: “Nossa aterrissagem será abençoada.....”

Resolvidos os problemas elas finalmente partiram rumo ao estrangeiro. Eu, particularmente, e acho que todos também, ficamos aqui apreensivos pensando em como seria na hora em que chegassem a Miami, porque o avião faria sua escala em Miami. Nenhuma das duas falava nada de nada de inglês e imaginei que iriam ter alguma dificuldade, mas não. Em Miami não. Só que o avião faria outra escala em Dallas que elas não sabiam. E, quando aconteceu esta escala onde todos os passageiros desceram, uma olhou para a outra e ficaram sem saber se desciam também ou não. Resolveram perguntar para a aeromoça... Mas perguntar como?????

_ Este avião (com gestos com as mãos imitando um avião) vai para Denver???

_ What?

_ D E I N V E E E R R R!!!!!!! Temos que descer também?

_ I don’t understand

Este diálogo prosseguiu e não havia jeito da aeromoça entender se era para as duas descerem ou não. Até que veio uma luz e tia Nicinha resolveu pegar uma revista que tinha Denver na capa e mostrou para ela.

_ Oh Danveer (mais ou menos como se pronuncia), no, no, sit, sit, next stop.

Finalmente desembarcaram sãs e salvas. Wilmara e Cláudio as esperavam satisfeitos. Wilmara com uma câmera na mão filmando tudo. Como era início de março estava muito frio, mas o frio não as incomodou nem um pouco, elas estavam preparadas. Wilmara e Cláudio não cabiam em si de tanto contentamento.

Como ainda faltava um tempinho para Gabriela nascer, resolveram aproveitar. Viram a neve cair, fizeram anjos na neve, escorregaram com tábuas, fizeram bonecos, enfim viraram crianças. Parece-me que teve uma vez que Wilmara se descuidou e quando assustou estavam as duas lá fora com a neve na mão querendo provar.

- Saiam daí as duas!!! Cachorro faz xixi aí!!!!

Gabriela resolveu nascer antes, não quis esperar nem o seu chá de bebê e com Wilmara no hospital e Cláudio estudando começaram os problemas. Elas tinham no apartamento o nº do telefone do hospital e o nº do quarto para qualquer eventualidade, então, um belo dia, precisaram de atum e não sabiam o que era atum na despensa. Tia Nicinha, muito sabichona resolveu ligar para o hospital. Atenderam e ela falou:

_  Rrruuuummm tchu tchu uam (Room 221)

_ Whaat?? (de novo)

Mas para ela a moça do outro lado falou alguma coisa assim:

_ blaubluwxoegoiehlohorhoejajfoeyh!!!

Ao que ela muito bravamente respondeu:

_ Ahn??? Ah! Wilmara!!! ( Wilmara em inglês, por sinal)

Nem imagino o que a recepcionista falou, mas parecia histérica e tia Nicinha entendeu isso:

_ wxyhblublaloaitnhailanhohoaoelroaodjçanhfoiahej!!!

_ Ah! Morais Sorice! (Ela deve estar perguntando o sobrenome...Pensou tia Nicinha)

_ A recepcionista falou: wrwrwrwrrwrwwrruurueu!

Aquele negócio estava ficando complicado, então ela resolveu encerrar por ali mesmo dizendo:

_ Tankiuuuuu!!!!

E desligou o telefone.

Me parece que as duas deram um jeito e conseguiram achar o atum para fazer o que queriam mas morreram de rir do ocorrido porque  as duas não ficavam vexadas não. Aliás, minha mãe chegou a comentar com Tia Nicinha que morria de pena do povo de lá que parecia, tinha muita dificuldade em falar com toda aquela língua enrolada.

Acharam também muito engraçado alguns costumes como só ir às compras de carro. Os supermercados eram um pouco longe e também estava muito frio para todo mundo andar a pé, mas para D. Nicinha e D. Zezé o frio não era barreira. Iam a pé mesmo. Teve uma vez que compraram comida em um supermercado e resolveram comer o lanchinho em uma praça. Só tinha as duas e tia Nicinha comentou:

_ Nossa Zezé, imagina se o Cláudio passar por aqui e nos ver vai pensar: “coitada da minha sogra, tão pobrezinha que tem que comer na rua... E davam gargalhadas delas mesmas. Parece que foi neste mesmo dia que, passeando chegaram a um Drive Thru. Como não sabiam o que era aquilo, é lógico, foram investigar e, ao passar pelo local de fazer o pedido, uma voz falou algo no alto-falante e as duas saíram correndo.

_ Corre Zezé, eles vão nos multar porque estamos pisando na grama!!!! O Cláudio não pode saber nunca disso senão ele vai ficar com raiva da gente!!!

E as duas saíram correndo mesmo. Pareciam duas crianças travessas.

Foram também a um cassino e mamãe jogou 1cent e a máquina começou a jorrar moedas. Ela ganhou 40 dólares. Com medo de ficar viciada parou por aí. Foram ao Gran Canyon, provaram churrasco de americano, compraram, compraram, compraram; tanto que na hora de vir embora e fechar as malas foi uma luta.

As histórias são muitas e eu ficaria aqui o dia inteiro digitando para contar. O que eu sei é que as duas falaram que voltaram mesmo a ser crianças e mesmo não gostando nem um pouco da comida (nem da batata, pasmem!) adoraram tudo o que fizeram. As duas não tinham dinheiro, não sabiam e não sabem falar uma vírgula de inglês e, foram e voltaram sãs e ilesas de tamanha aventura. Nós, pobres Morais mortais continuamos por aqui não é mesmo? E com todo o mico e situações inusitadas sinto muitas vezes um pouquinho de inveja e muito, muito orgulho dessas duas Morais que a seu modo chegaram e arrasaram nos States.





PIERCING DE CALCANHAR


Ela estava pegando alguma coisa na parte de cima do guarda roupa quando de repente caiu a caixinha em que guardava seus brincos, pulseiras, colares.... Ela deu uma olhada para baixo, suspirou e continou dependuranda em sua busca. Foi em vão, nada de achar o que tanto procurava. Resignada ela se soltou e, com toda a força, pisou no chão, quando encontrou algo forçando o seu calcanhar insistentemente. Vencendo a barreira da pele mais dura aquilo entrou com toda a força. E foi com a força de um grito de pavor que ela desesperada viu o que estava ali: um brinco dos grandes enterrado até o fundo em seu calcanhar.

Isto aconteceu comigo galera...

ACHO QUE EU FUI A PRIMEIRA PESSOA QUE CONSEGUIU FAZER UM PIERCING NO CALCANHAR.
AFFF......

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O INÍCIO DE UM SONHO




Castelhanos hoje é uma praia tão famosa, e todos nós gostamos tanto de lá, que decidi relatar como tudo começou, e faço isso com a ajuda preciosa de Tia Carminha.    

        Meu avô sempre foi um apaixonado pelo mar e, ao contrário de muitas pessoas e muitas famílias que, naquela época, final da década de 60 e início da década de 70, não conheciam o mar, a nossa o conheceu bem cedo. Desde quando eu me entendo por gente, lembro-me de ir sempre a uma praia nas férias. E vovô era apaixonado pelas praias do Espírito Santo. Alugava casas em Nova Almeida, Anchieta, Ubu, dentre outras cidades praianas, e aonde ele ia, a família sempre o acompanhava.

        Aquelas comédias que a gente vê por aí, tipo “Mineiros em férias”, aconteceram conosco quando fomos a Nova Almeida, isto porque resolveram juntar a nossa família com a de Dona Palmira (mãe do Tio Willam), todos em uma só casa. Imagine a confusão. E, lembrando-me dessas férias, não resisto aqui em contar um caso que aconteceu nesse passeio. Não me lembro como, mas sei que em uma de nossas aventuras, para conhecer o local, nos deparamos com um rio. O engraçado é que, mesmo eu sendo muito pequena, recordo-me de alguns detalhes: o rio era muito certinho e estávamos todos juntos. Ao nos depararmos com este rio, ficamos encantados, pois devíamos estar meio que cansados do mar, então, na mesma hora, todos pularam dentro dele. Lembro que fiquei com medo e não queria pular, quando me jogaram e ainda comentaram:

-       Menina fresca!   

E o pessoal estava animado, uns nadando, alguns mergulhando e outros saboreando aquela refrescante água:

-       Nossa, que delícia! Finalmente água doce!!! Prova, gente, é doce mesmo!!!!

E alguns gritavam:

-       Nossa, acho que passou um peixe por aqui. Olha a cobra, Ivana!!!

Bom, depois de um tempo vimos ao longe umas três pessoas chegarem correndo e gritando. De longe não dava para ouvir, mas, ao se aproximarem, entendemos tudo:

-       Vocês são doidos ou o quê??? O que pensam que estão fazendo? Este rio serve de esgootooo!! Saiam daí rápido.

Não precisa nem dizer que do mesmo jeito que entramos, saímos: sem palavras, todos cabisbaixos e envergonhados. Não sei se foi tudo assim mesmo, mas a maior parte é verdade porque eu estava lá.

Voltando às nossas incursões pelas praias capixabas, em 1972 ou 1973, Tia Regina e Tio Carlos foram passar férias em Anchieta, na casa de Wanda, irmã do Tio Carlos. Vovô então resolveu alugar uma casa nas proximidades.

        Em Anchieta tínhamos que ir a outras praias, pois a de lá é praticamente inviável para se tomar banho, então me lembro de que os adultos iam explorando algumas praias (Praia do Balanço, Praia do Coqueiro, Monte H) e assim descobriram Castelhanos que nesta época era uma praia virgem, sem nenhuma construção, nem loteamento. Todos ficaram deslumbrados com a beleza desse local. E, surpresa das surpresas, não é que começaram a passar trator em Castelhanos, abrindo assim as ruas de um loteamento? A partir daí, Wilson e Alzira que eram recém casados abriram um restaurante na orla e, ao lado desse restaurante, foi aberto um cômodo onde o corretor, Sr.  Lobo, começou a vender os primeiros lotes.

Vovô se encheu de alegria e ficou deslumbrado, pois aquela praia era o seu sonho, ela o encantou desde o início, pois ao se chegar ao pé do morro de onde ela se descortina, a vista é simplesmente deslumbrante. Era de longe a mais linda praia.  E ele viu aí a oportunidade de realizar seu sonho de ter uma casa na praia.

        Quando acabaram as férias e retornamos a Belo Horizonte, vovô resolveu convocar todos os filhos para uma reunião. Contou a todos seu desejo e perguntou se queriam, juntamente com ele, pagar as prestações do lote. E assim foi feito, e assim começou o lindo sonho de ter uma casa na praia de Castelhanos.  

Vovô escolheu o lote e, na época, não sabia que seria na rua principal.  O lote também foi escolhido por ter uma linda e grande árvore bem no meio. Mal sabia ele que aquela árvore teria que ser arrancada para a construção da casa.

Mesmo sem a ela, continuamos, todo ano, a alugar casas de temporada em praias próximas. Ficávamos nessas residências e frequentávamos a praia de Castelhanos, que tinha somente o restaurante. Quando acabamos de pagar o lote, vovô reuniu novamente os filhos e fez a proposta de contratar um empréstimo na Minas Caixa, onde Tio Carlos era o subgerente, para finalmente construirmos a tão sonhada casa na praia.

          E assim começou a construção de nosso sonho. Isto foi no ano de 1974. O negócio foi fechado com um aperto de mão do Tio Carlos com o construtor Sr. Antônio que, ao dar o primeiro preço, não percebeu que era muito pouco para aquela obra; já Tio Carlos, muito esperto, fechou o negócio na hora sem titubear. Nossa casa foi a terceira construída. Era humilde, feinha até, mas muito aconchegante e fez a nossa felicidade. Ela foi construída de frente para a rua principal e só depois que vovô faleceu, mudamos a frente para a rua lateral, pois o movimento de carros estava muito grande e como a rua era de terra a casa ficava cheia de poeira. Ainda por cima, havia muitas crianças e todos tinham medo de acontecer algum acidente. Para fazer essa mudança, foi preciosa a ajuda financeira da vovó e as contribuições que os filhos davam todo mês.

Acho que o sucesso foi tão grande que a partir de nós, outras pessoas conhecidas também compraram lotes lá (Dona Palmira, Ângelo Kalapotakis etc). 

          Em uma de nossas primeiras férias passadas lá, Tia Nezita e D. Palmira resolveram se embrenhar mato adentro até chegarem a uma parte do mar ainda desconhecida por todos. Ninguém sabia onde elas estavam e todos começaram a ficar muito preocupados com o aquele sumiço. Somente muito tempo depois elas apareceram dizendo que estavam num lugar maravilhoso, paradisíaco e que este lugar parecia com a boca de uma baleia. Todos ficaram curiosos para ver este pedacinho do céu e, no dia seguinte, toda a família Morais foi conhecer esse lindo lugar, que mais parece uma lagoa e que, partir daí, ficou se chamando “Boca da Baleia”. Hoje em dia é comum ver várias pessoas se dirigindo para lá ao entardecer somente para apreciar o por do sol que é belíssimo. Pena que atualmente o local seja freqüentado por muitos farofeiros que sujam a areia com restos de comidas, carnes de churrascos etc.

        Hoje me vêm à lembrança tantas coisas que fica difícil até de escrever. São curiosidades que, quem frequenta lá hoje, nem imagina que acontecia. O telefone é uma dessas curiosidades. Existia um orelhão que ficava ao lado do restaurante e, à noite, porque a “chamada a cobrar” era mais barata, formava-se uma fila imensa de pessoas, todas ávidas por ligar para BH para dar notícias. Em tempos de dois celulares por pessoa isto parece inacreditável, não?

        Televisão também nem pensar. O único lugar que tinha era no Tanharu, o primeiro hotel construído e, às vezes, tomávamos coragem e íamos lá para assistir a um capítulo de uma novela.

        Outra coisa legal é que quando chovia, as ruas se enchiam de barro e, no dia seguinte, quando o sol aparecia, o barro ficava como uma crosta e era bem legal você ir andando e pisando nestas placas e fazendo “croock, croock”.

        Havia também umas árvores com uns cipós imensos e a gente brincava muito de Tarzã. Era para as crianças brincarem, mas teve gente mais velha que foi se aventurar de Jane e se despencou no meio do caminho gritando: _ Uóóóóóóó.... Tarzãããããããã!!!! Né, Tia Carminha???

        Outra curiosidade é que sempre íamos caminhando para a esquerda da praia e chegávamos à Praia da Guanabara que tinha o mar muito bravo. Parece que lá teve um loteamento bem antes de Castelhanos, mais chique até, mas que não deu certo. A gente sempre via algumas construções de verdadeiras mansões abandonadas. Inventávamos histórias macabras sobre aquelas casas.

        Foi mais ou menos assim que começou Castelhanos. Eu, particularmente, fico cheia de vaidade quando algum conhecido fala que já foi e adora Castelhanos. Aí penso... “nós que começamos aquilo ali.” E novamente me vem água aos olhos por pensar que não aproveitei o bastante, e que meus filhos não viveram o que eu vivi por lá. A “casa verde” que ficou com este nome por causa de sua pintura externa com os pinheiros na frente, a mansão do Sr. Afrânio lá no alto, as castanheiras pequenininhas, os guruçás que frequentavam as ruas à noite (o medo que eu tinha de eles subirem por minhas pernas) e as primeiras barracas na praia são lembranças bucólicas de uma infância e uma adolescência prazerosa.

                                        Contribuição de Tia Carminha

  





quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

VOVÓ PILAR


Ter uma avó igual a que nós tivemos é para poucos. Minha avó além de ser avó era uma avó para lá de especial. Única, mesmo com todos os seus defeitos ela era uma avó para lá de avó... Vou tentar contar aqui um pouco do que foi vovó Pilar para mim e, tenho certeza, para todos os que conviveram com ela. Se houver algum erro me desculpem, pois estou escrevendo sobre o que me lembro, principalmente de uma infância querida.

Vovó se casou com vovô João em 1936. Não tiveram nem tempo de ter uma Lua de Mel ou coisa que o valha. Pelo que eu me lembro dela contando, casaram, foram a um cinema e lá, só lá, deram um selinho na boca. Ela era a filha mais velha de uma grande família e como sua mãe tinha morrido cedo era ela quem cuidava das irmãs e irmãos mais novos. Seu pai, o famoso Inácio Fonseca (somos todos metidos porque a Praça da Igreja no Calafate tem o nome do nosso bisavô) se casou de novo com Aparecida um pouco depois que vovó se casou, então ela tinha irmãos também da idade de seus filhos mais novos.

Bom, vovó sempre foi uma mulher especial. Meu avô, e eu já escrevi isto, era para lá de machão, mas vovó era sábia e com seu jeitinho sabia muito bem contornar estas coisas para ser feliz e fazer o que sempre gostava, à sua maneira, representar.

Hoje eu fico imaginando que não era fácil para ela, pois sua casa era sempre cheia de netos, filhos, amigos. E os netos, todos pequenos aprontavam sempre. Imagina umas 10 crianças juntas!! Sempre havia uma briga. E quando o bicho pegava a gente gritava:

- ÔOOOOO Vóoooooooooooooooooo!!!!! Olha a fulana aquiiiiii!!!!

E era “Ôo Vó” a toda hora. Quando as nossas mães estavam presentes a gente continuava brandindo nossos pulmões e clamando por ela. Ao que ela gritava conosco:

- Ôoo Vó não! É Ôoo mãeeeeeeeeeeeee! Sua mãe está aqui agora.

Mas não adiantava a gente só queria Ôooo vó!

Me lembro de algumas reclamações dela por conta da bagunça e da casa sempre cheia mas vovô sempre retrucava:

- Pilar, Pilar, um dia você ainda vai sentir saudades disto tudo e vai reclamar justamente do contrário.

Sábias palavras...

Tenho certeza de que vovó, se não se casasse com o vovô, seria uma atriz. Ela adorava representar e, mesmo casada, achava sempre uma oportunidade de fazer isto. Tem umas músicas que a gente canta até hoje e que ninguém conhece, mas foi a vovó quem nos ensinou. “O Funileiro” então era sua marca registrada. Cantava em todas as festas; cantava e a representava. Outra coisa que adorava fazer era fantasiar e fingir ser outra pessoa. Tem caso de gente conhecida que caiu nesta armadilha, não a reconheceu e ficou um bom tempo com raiva dela. Teve uma vez que estávamos em Castelhanos, era janeiro e estava o maior calor. Fomos todos para a praia e vovó ficou para trás. A praia estava cheia e eis que de repente chega uma senhora toda encapotada, com blusa de frio, calça de lã, gorro, cachecol, se senta na areia e fica lá, observando o mar. É lógico que todo mundo que passava parava para olhar. Então quando já era o centro de todas as atenções a mulher se levanta e começa a fazer um Streep tease até ficar só de maiô. Aí todos puderam ver que aquela maluca que estava ali era minha avó que caiu na risada quando tudo terminou. Essa é só uma das histórias de minha avó.

Outra curiosidade é que seu aniversário era no dia 06 de fevereiro e, quando caía no carnaval, era carnaval em sua festa na certa. Todos nós nos fantasiávamos. Ela adorava isto e adorava receber suas irmãs. Teve um destes aniversários que ela se fantasiou de melindrosa e quando suas irmãs estavam para chegar ela resolveu subir em cima do piano, se assentou, fez a pose clássica de melindrosa com uma piteira na boca e pernas cruzadas e ficou ali esperando. Foi a maior surpresa quando as irmãs chegaram e se depararam com aquela cena.

Ela sempre aprontava e quando meu avô morreu, passado o luto, vovó se esbaldou. Freqüentava o Sesc, fazia ioga, viajava e era uma adepta do poder das pirâmides. Me lembro direitinho dela fazendo água energizada de pirâmide. Teve uma vez em que o copo de cristal em que uma mini pirâmide estava energizando uma água se espatifou sozinho... Bom, acreditem se quiser, mas eu vi. Ela chegou até a comprar um aparelho para medir a aura das pessoas. Virou uma especialista nisso. Tem um gesto com o dedo imitando uma pirâmide que ela me ensinou e que me ajudou muito em diversas situações.

Sempre acolhedora, dava conselhos e também era brava às vezes. Era uma casamenteira, sempre arrumando namorados para as netas.Tinha os seus netos prediletos, hoje eu consigo visualizar isto, mas não conto aqui nem que me batam; todos nós temos nossas afinidades e com ela não era diferente. Mas acolhia a todos em sua casa. Quantos, na hora da precisão moraram com ela?

Tocava piano muito bem e “La Cumparsita” era uma de suas músicas preferidas. Nos ensinou a bordar, fazer crochê, jogar baralho (um monte de jogos) e tinha uma mania estranha de conversar com minha mãe na língua do blu (blu, blu, blu, blu,blu....). Quando dava na telha ela ligava lá para casa e ficava falando desse jeito. E minha mãe respondia prontamente. Não sei como, mas elas se entendiam perfeitamente. Era blu, blu, blu para cá e blu, blu, blu para lá. Acabavam a conversa em blu e morriam de rir. Simples assim mesmo.

Vovó era assim, intensa, humana, engraçada, era uma verdadeira peça, literalmente. Por mais que eu quisesse contar tudo, todas as histórias eu não conseguiria. Mesmo no auge de sua derradeira doença quando ela, na maior parte do tempo sumia de todos nós, não é que de repente aqueles olhos voltavam, ela fazia alguma graça e a gente podia viver um pouquinho dela ainda, e isso nos servia naquela época imensamente, pois nestes momentos víamos que vovó ainda estava por ali. Mas isto é muito triste e estou falando aqui de alegria, pois vovó era a alegria em pessoa e sua essência ficou cravada em cada um de nós. A vovó Pilar, a Pilar, a tia Pilar, a Pilarzinha tão querida, conhecida e adorada por todos continua entre nós.

Tem uma frase que adoro e que descreve perfeitamente a vovó e foi com esta frase que rendemos nossa última homenagem a ela.

“Nós só conseguimos ser felizes realmente quando conseguimos rir de nós mesmos.”

Esta era a nossa avó.




quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A ARTE DE SUMIR

     Ser um “Morais” é alguma coisa que só quem é entende, aceita e se diverte sempre, mesmo que as mesmas histórias se repitam ao longo de anos e anos. Os demais que não são “Morais”, muitas vezes não entendem o porquê de muitas das coisas e situações, mas, tenho certeza, se deliciam tanto quanto nós com os inúmeros “causos” de nossa família.

     Uma série dos episódios mais famosos trata do “sumiço” de personagens muito conhecidos nossos. Vou tentar ser mais fiel possível aos fatos... Se bem que uma dramatizada vai muito bem com a nossa cara. E como sou uma “Morais” da gema, eu posso.

     Devia ser o ano de 1962 ou 1963. Meu pai e minha mãe estavam casadinhos de novo e moravam em um delicioso barracão na Gameleira. Devia ser uma tarde de sábado bem calma quando chegam ao portão Dona Pilar, Nicinha e Nezita (tenho quase certeza...). Pelas caras das três meu pai falou com minha mãe:

- Zezé, acho que morreu alguém...

Minha mãe aflita foi ter com as três e voltou apavorada para meu pai:

- Marco Aurélio sumiu!!!!

Todas ficaram desesperadas. Meu pai, mais centrado, mais calmo (porque ele, obviamente não é Morais e Morais nestas horas é dramático!), tenta ponderar:

- Que isso Dona Pilar! Marco Aurélio está por aí, deve ter brigado com a namorada, deve estar no sítio.

Minha avó já chorando....

- Impossível!!!! Desde ontem à noite que ele não aparece; no sítio ele não está porque senão ele tinha me avisado... Aconteceu alguma coisa... Ai meu Deus!!!

E, foi aquele chororô das quatro. Meu pai,muito cabreiro, ficou calado.

     Decidiram então que logo iriam para o Calafate na casa mãe. Quando meu pai e minha mãe subiram a rua da praça e avistaram a casa, bom, a casa estava apinhada de gente saindo e entrando, uma balbúrdia digna de catástrofes. Meu pai jura que ficou com muita vergonha por ter que participar desta cena, mas casado de novo não podia argumentar muito. Resolveram juntar forças tarefas, todos procurando Marco Aurélio em tudo o que é lugar. E pro mais que procurassem Marco Aurélio não aparecia. No sítio não precisava ir, pois vovó tinha certeza de que ele não estava lá. Até na Medicina Legal foram... E nada de achar Marco Aurélio. Depois de muito choro, muito desespero, muito blá, blá, blá meu pai deu a idéia de irem ao sítio só para desencargo de consciência. Resolveram ir, pois não tinham mais nada a perder. Ao chegarem ao sítio avistaram um rapaz com uma garrafa da “marvada” na mão totalmente embriagado olhando abestalhado para eles e...

- Rê...rê, rê, rê, rê, rê..... Briguei com a Ivone...

     Tudo resolvido, Marco Aurélio, o “bendit-é-u-fruto” de cinco filhas estava de volta para casa são e salvo.

     Os anos se passaram e aí já devia ser 1979 ou 1980. Estávamos morando no Alípio de Melo quando o telefone toca de madrugada. Como não tínhamos extensão o telefone ficava na copa. Minha mãe na mesma hora cutuca meu pai.

- Vai lá atender Blair, deve ter morrido alguém; telefone tocando nesta hora só pode ser isso.

Meu pai vai atender ao telefone e escuta minha avó. Pacientemente vira para minha mãe (que a esta altura já estava ao seu lado) depois de escutar a primeira fala de minha avó e diz:

- M a r c o  A u r é l i o  sumiu de novo!

A explicação de minha avó era que Tio Marco e Tia Nina tinham deixado o Marquinhos com o Sr. Paulo (pai da tia Nina) de tarde e não tinham voltado até aquela hora. Meu pai pacientemente tentou argumentar:

- Que isso D. Pilar, Marco Aurélio deve ter ido à um motel com a Nina!

Ao que minha avó na mesma hora retrucou:

- Marco Aurélio não faz estas coisas! Aconteceu alguma coisa com os dois.

Bom, não precisa nem dizer que ninguém mais dormiu lá em casa. De 30 em 30 min. era telefonema de cá para lá, de lá para cá:

- Apareceu? Tem alguma notícia?

- Não! Nada ainda!

     E o Marquinhos, muito novinho ainda, devia estar aos prantos, pois me lembro bem que ele não gostava de ficar com ninguém.

     Amanheceu o dia e nada do Tio Marco Aurélio aparecer... Acho que foi lá pelas 10h da manhã que chegaram; ele e tia Nina com um sorriso no rosto e transbordando felicidade.

- Mas o que aconteceu com vocês? Onde vocês estavam?

- Uai a gente tava no motel.

     Meu avô era daqueles caras que achava que homem ser machista era pouco. Na hora não falou nada porque não conseguia, mas no dia seguinte chamou o Tio Marco Aurélio para uma conversa séria no escritório. Reza a lenda que o aconselhou muito falando que motel era para as outras não para levar a esposa.

     Que eu me lembre Tio Marco Aurélio parou com essas coisas de sumir; pelo menos eu nunca mais tive notícia de mais um episódio seu.

     Já Tia Regina vira e mexe apronta das suas. Parece que estes genes de sumiço foram para os dois últimos irmãos.

     Tudo começou com o namoro proibido com Tio Carlos. Meu avô não queria de jeito nenhum e uma bela tarde de um dia de semana qualquer Tia Regina foi vista andando a esmo pela Av. Augusto de Lima. Pelo jeito que ela estava parecia que ia fugir de casa. Tio William, que não é Morais, foi quem viu. Segundo ele, ela estava toda descabelada, mas temos que dar aí um desconto, pois Tio William também é muito exagerado. Ela jura que não, mas... O certo é que o casório aconteceu, não sei se por causa deste sumiço, mas que deve ter contribuído lá isso deve.


     De lá para cá, Tia Regina deve ter dado esses sumiços umas 10 vezes ou mais. É só ter uma briguinha com o Tio Carlos que ela some. No início todos ficavam muito preocupados mas agora achamos meio normal. Quase fazemos aposta para descobrir em qual casa ela está escondida e quanto tempo vai durar o sumiço. Agora mesmo enquanto escrevo estas linhas Tia Regina está em um de seus sumiços. Eu já descobri em qual casa ela está, mas não conto para ninguém. Na minha opinião esta é uma forma dela apimentar a relação. E olha que dá certo. Pois sempre eles voltam e ficam muito felizes até todos se perguntarem novamente: Onde será que a Regina se meteu desta vez?



terça-feira, 17 de janeiro de 2012

BBBOTÁRIOS


     Se tem uma coisa que eu me recuso a assistir é este programa de otários da Globo. E o pior é que são otários todos nós. Todos que aceitam participar de um programa assim, os repórteres chatos, o apresentador que alem de otário é bobo porque é um cara sensível, estudado e se permite fazer uma coisa dessas, os que assistem e pessoas como eu que não queremos assistir e somos obrigados porque em toda propaganda tem chamadas e mais chamadas, então sou tratada como otária pela Globo.

   Ontem, por acaso, assistindo à televisão vi que as duas primeiras escolhidas para o “paredão” eram uma mineira gordinha e uma baiana pobre. Só podia ser né? Porque nenhuma das duas se encaixa nos padrões das estrelas globais. Fiquei pensando que a Globo quis se mostrar boazinha escolhendo estas duas e na primeira oportunidade as colocou em cheque. Vocês acreditam mesmo em votação? O pior de tudo ainda foi escutar as opiniões das pessoas populares do Rio (né?), todas escolhendo uma ou outra porque não se encaixavam. Ai, ai, até quando vamos ter que aturar esta ditadura imposta pela TV, principalmente pela Globo onde um corpo vale mais que uma mente? Será que a “toda poderosa” acha mesmo que nós somos todos tão otários assim? Podia dizer aqui que é bem feito para as duas por quererem entrar em um programa desta estirpe. Mas eu fico com pena porque serão ridicularizadas em todo o Brasil e neste processo todo, milhares de pessoas vão sendo conduzidas com cabresto e batendo palmas a tudo isso.

     A Globo tem uma concessão pública e tem que merecer esta concessão. Não é possível que todas as noites ela ensine ao povo brasileiro que se você não for bonita, magra, ter uma condição de vida legal, não usar roupas certas, você está fora!!!! Isto é preconceito. Todos, todos, têm que ser iguais às pessoas mostradas em sua telinha. E ainda tem mais, fiquei sabendo que expulsaram um negro porque acham que ele estuprou uma donzela loura. Ora! Façam-me o favor! Depois de se mostrar em toda novela que o negócio é “dar” para qualquer um do jeito que for,  a Globo vem dar uma de rigorosa.O pior é que esta moça, que nem sei o nome e nem quero saber, vai fazer o maior sucesso como fez aquela golpista do vestido vermelho. Vai derramar lágrimas até por ter sido deflorada. E a imprensa, ahhhhhhh a imprensa ajuda e muito, pois dá toda cobertura a coisas assim.

Aonde vamos parar Brasil? Até quando Globo? Até quando povo?

sábado, 14 de janeiro de 2012

O MURO DA CASA DA VOVÓ






O MURO DA CASA DA VOVÓ

     Acho que a maioria das pessoas tem saudades de sua infância. Comigo também não é diferente. Ainda mais que a minha infância ocorreu na década de 70, onde tudo, tudo era diferente. Uma das coisas que me surpreende hoje, e eu me pego sempre pensando nisso, é que não havia essa profusão de lojas de roupas. Havia algumas butiques que eram para quem tinha muitoooooooo dinheiro. Mas, a meu ver, a maioria das pessoas era como a gente, meio “pobre”, se vocês me entendem. O negócio das roupas era comprar pano e fazer roupa em casa; mamãe costurava muito bem e nossas roupas eram criações dela. Ou então roupas que ganhávamos de uma tia rica; nossa, era uma festa quando ela mandava sacolas e sacolas de roupas, dava até briga. Não estou dizendo aqui que não tínhamos dinheiro para roupas, mas era um costume isso e não ficávamos nem um pouquinho com vergonha, muito pelo contrário, adorávamos. Ahhh, lembro-me agora do Sr. Ludovico que era um vendedor de roupas. Ele chegava com umas duas malas imensas e mamãe e as outras tias faziam a festa.

   Bom, mas voltando à nossa infância, dentre outras coisas, para mim, o que mais a traduz era o muro da casa da vovó. A casa da vovó em si era alguma coisa inexplicável de tão deliciosa. Morávamos todos juntos ali. Era uma casa grande, imensa, com um barracão atrás, um terreiro enorme, tão grande que cabia um palanque, que meu avô comprou não sei para quê, mas naquela época tínhamos certeza de que ele tinha comprado aquilo para brincarmos de casinha, apesar da sua intransigência com essa nossa prática. Tinha um caramanchão e árvores. Ah, as árvores... acredita que tinha um pé de Araçá (quem conhece Araçá?), um pé de Jurubeba (arrrgh), um pé de Pêssego que tinha uma gangorra onde eu ficava horas gangorrando e viajando, sem falar no pé de Caqui. Tinha tipo um jardim na frente, que teve uma época que tinha um suporte para barco, ideal para nossas brincadeiras, e um muro. Bem, um muro muito especial. Nada daqueles murinhos fininhos, bobinhos, fraquinhos... não! Era um murão. Todo cheio de buracos redondos e bem, bem largo. Do lado de dentro era só subir e sentar. Do lado de fora a gente punha o pé nos buracos e sentava. Parece que muro foi feito para isso, para a gente sentar. E como fazíamos isto. Ele era imenso! Tinha e tem até hoje outra casa na mesma praça, a casa da Irma, com um muro baixinho que deveria ser melhor de se sentar, mas o muro era cheio de fincos!!?? Parece que ela pôs os fincos justamente para ninguém assentar ali. Ainda assim, bem que tentávamos, pois éramos destemidos e corajosos mas era muito incômodo. Nem se comparava com o nosso muro, ele dava de 10 a 0 no muro da Irma.

     A nossa vida era só brincar e da infância à adolescência o muro fez parte de nossas vidas. Me lembro que a gente jantava lá pelas 7h e depois, rua. Ficávamos assentados no muro conversando, brincando até que alguém chamava e, exaustos, íamos dormir. Engraçado que pensei agora na televisão... Não é que não tinha, tinha sim, mas não assistíamos, preferíamos brincar e muito. Já tinha até as novelas, mas isso era coisa para adultos.

   Tantos nomes me vêm à cabeça agora, tantos colegas que a vida no seu curso fez questão de afastar. Tantos episódios, tantas brincadeiras, a delícia de crescer entre colegas, todos estudando no Bernardo Monteiro, porque escolas particulares era coisa para os muito ricos. Era uma época de uma inocência sem fim. Quem até hoje assiste ao Chaves pode ter uma idéia, mais ou menos, do que a gente vivia.

     Hoje temos mais conforto, mais informação, roupas mais bonitas (a gente usava batas curtinhas), um montão de lojas para comprar, as casas estão mais seguras, casas não, apartamentos né? Mas... eu, eu bem queria aquele muro novamente para eu me assentar, só  mais uma vez, só mais um pouquinho, só para sentir, recordar...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

FÉRIAS


Quando chega janeiro, é impossível não pensar em praia, visto que a maioria de nós, mineiros, vai pegar uma onda em uma praia qualquer. Hoje, em tempos de “facebook” então, são inúmeras as fotos da galera na praia. Deve ser por isso que me deu um imenso saudosismo de algum tempo atrás, época de mil novecentos setenta e alguma coisa.

Família grande, de muitos tios, e principalmente muitos primos. Todos em uma faixa etária deliciosa de 7 a 10, 11, 12 anos. Tínhamos uma casa em uma praia do Espírito Santo que estava sendo descoberta, e meu avô, juntamente conosco, era o desbravador. Algumas pouquíssimas residências, um restaurante e uma praia, das mais bonitas que eu já vi, Castelhanos. A nossa casa... bem, a nossa casa era totalmente sem conforto, a mais feia de todas as poucas, mas a nós, meninos, nada disso importava. Éramos tantos que tínhamos que juntar as camas para dormirmos atravessados (só assim caberiam todos). O banheiro era somente um, graaande, mas só um. E como fazer na hora do banho? Sorte, resolveram os mais velhos e muito sábios. Então sorteavam, e o nº 1 tomava banho primeiro e assim sucessivamente. No dia seguinte a ordem invertia e quem era o último ficava muito alegre.

Os nossos dias na praia eram invariavelmente os mesmos: de manhã acordar cedo, tomar café (café com pão e margarina), praia até lá pelas 15h, literalmente torrando no sol (não tinha essa preocupação com a radiação ultravioleta). Íamos embora para casa e, enquanto a meninada tomava banho, os mais velhos faziam o almoço (simplíssimo). Depois disso, uma descansadinha e íamos explorar as matas, as praias virgens, as inúmeras trilhas. Medo de alguma coisa? Não!!! E à noite, o único programa era o Restaurante do Moacir e para ir lá, íamos todos juntos, em grupo, uma pessoa com uma lanterna na mão, pois não havia postes de luz. E aí sim dava medo pois as ruas eram cheias de guruçá – para quem não sabe, guruçá é tipo um siri, só que transparente e corre feito o diabo. Nos meus sonhos eles corriam atrás de mim e subiam pelas minhas pernas.

Há, já ia me esquecendo, no meu caso a minha família não tinha carro, então íamos todos à praia, uma vez por ano, de ônibus. Ele parava em Guarapari e de lá até Castelhanos mais um ônibus até Anchieta, e depois um táxi até nosso paraíso. Alguém reclamava de alguma coisa? Não, e tenho certeza de que foram as melhores férias de nossas vidas.

Hoje, ao sairmos de férias, a preocupação maior é que fiquemos em um hotel de nível superior. O café tem de ter ovos mexidos no mínimo, com frutas, sucos etc. O sol tem de ser tomado até as 10h senão... e, se der, a gente leva até meia fina para desfilar.

Ai que saudade da pureza, da despreocupação, da alegria, e da aceitação de tudo, em que o mais importante era o divertir, a areia no corpo, pegar um jacaré perfeito, ficar esperando uma onda perfeita para furá-la.

Wilmara, Ana, Ivana, Vanise, Ju, Claudinho, Júlio, Rogério, Valéria, Adriana, Lili, Alcione, Biba, Wilhinho, Viviane, Karla, Cleni, Juninho, Marquinho, Janaína, dentre outros, primos queridos que viveram comigo todas essas emoções.

 Saudades de um tempo que não volta mais.



segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Dom Quixote

Fico pensando nos valores que me foram passados através dos anos e, cada vez mais fico espantada com tudo o que acontece ao nosso redor. As ocorrências nacionais já não geram nenhuma surpresa para ninguém, pior que isso, tudo o que estamos vendo está nos deixando acostumados e letárgicos.
Mas quando acontece ao nosso lado, para mim, é inacreditável. Não sei se é porque eu não sou assim e fui criada de uma maneira sem este apelo financista onde o que é meu é meu, onde eu sou responsável por tudo o que eu faço implicando nisso inúmeros deveres, que não consigo aceitar esses novos valores onde o que eu quero tem que ser independente de tudo. Donos de empresas, advogados, funcionários públicos (que podem acabar com você do jeito que bem entendem e você fica limitado à uma lei ridícula que os protege), pessoas mortais, todos, todos, querendo dar o tombo, passar alguém para trás. O que vale é eu me dar bem e o resto, bom o resto que se foda. E a maioria dos mortais que tem a "alma pura" se vê a frente com atitudes que nunca imaginava que uma pessoa igual a você pudesse fazer.
Estou vivendo este momento agora e me indgno profundamente. Queria poder fazer algo, gritar para todos ouvirem mas como??Eu almejo sim uma vida melhor, com mais dinheiro, mais tranquilidade, mas nunca pensaria em passar em cima de todos como um trator.
Será que é utópico pensar em atitudes assim? Será mesmo que este mundo meu não existe? Será que a justiça é só para os espertos? Vou ter que me curvar a tudo isso?
Pensando bem, prefiro ser como Dom Quixote e acreditar que os meus valores ainda valem, e muito, pois para mim são um dogma de viver. Prefiro mil vezes me indignar profundamente a ter que me curvar a mundo assim.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

COMEÇO

Resolvi criar este blog com a intenção de todo dia colocar impressões diárias sobre tudo o que acontece comigo. Primeiramente tenho que dizer que hoje me sinto um pouco deslocada com tudo ao meu redor. Entra ano, sai ano e a minha dúvida continua: seguir neste ramo incerto de salgados ou me aventurar. Seguir meu sonho, estudar e ter uma profissão ou continuar. Sei que muitos acham que eu já fiz e faço muita coisa mas não considero assim, falta alguma coisa; apesar desta minha profissão de agora me bancar ... e os meus sonhos?
O pior é que esta é uma situação em que me encontro por culpa minha, só minha. Eu sou a única responsável por esta situação. EU TENHO QUE ME DECIDIR E ME LANÇAR. Mas tenho medo, principalmente por me considerar velha. Sei que estou errada mas uma coisa é na cabeça você achar uma coisa e outra bem diferente é a dura realidade.