Ter uma avó igual a que nós tivemos é para poucos. Minha
avó além de ser avó era uma avó para lá de especial. Única, mesmo com todos os
seus defeitos ela era uma avó para lá de avó... Vou tentar contar aqui um pouco
do que foi vovó Pilar para mim e, tenho certeza, para todos os que conviveram
com ela. Se houver algum erro me desculpem, pois estou escrevendo sobre o que
me lembro, principalmente de uma infância querida.
Vovó se casou com vovô João em 1936. Não tiveram nem
tempo de ter uma Lua de Mel ou coisa que o valha. Pelo que eu me lembro dela
contando, casaram, foram a um cinema e lá, só lá, deram um selinho na boca. Ela
era a filha mais velha de uma grande família e como sua mãe tinha morrido cedo
era ela quem cuidava das irmãs e irmãos mais novos. Seu pai, o famoso Inácio
Fonseca (somos todos metidos porque a Praça da Igreja no Calafate tem o nome do
nosso bisavô) se casou de novo com Aparecida um pouco depois que vovó se casou,
então ela tinha irmãos também da idade de seus filhos mais novos.
Bom, vovó sempre foi uma mulher especial. Meu avô, e eu
já escrevi isto, era para lá de machão, mas vovó era sábia e com seu jeitinho
sabia muito bem contornar estas coisas para ser feliz e fazer o que sempre
gostava, à sua maneira, representar.
Hoje eu fico imaginando que não era fácil para ela, pois sua
casa era sempre cheia de netos, filhos, amigos. E os netos, todos pequenos
aprontavam sempre. Imagina umas 10 crianças juntas!! Sempre havia uma briga. E
quando o bicho pegava a gente gritava:
- ÔOOOOO Vóoooooooooooooooooo!!!!! Olha a fulana
aquiiiiii!!!!
E era “Ôo Vó” a toda hora. Quando as nossas mães estavam
presentes a gente continuava brandindo nossos pulmões e clamando por ela. Ao
que ela gritava conosco:
- Ôoo Vó não! É Ôoo mãeeeeeeeeeeeee! Sua mãe está aqui
agora.
Mas não adiantava a gente só queria Ôooo vó!
Me lembro de algumas reclamações dela por conta da
bagunça e da casa sempre cheia mas vovô sempre retrucava:
- Pilar, Pilar, um dia você ainda vai sentir saudades
disto tudo e vai reclamar justamente do contrário.
Sábias palavras...
Tenho certeza de que vovó, se não se casasse com o vovô,
seria uma atriz. Ela adorava representar e, mesmo casada, achava sempre uma
oportunidade de fazer isto. Tem umas músicas que a gente canta até hoje e que
ninguém conhece, mas foi a vovó quem nos ensinou. “O Funileiro” então era sua
marca registrada. Cantava em todas as festas; cantava e a representava. Outra
coisa que adorava fazer era fantasiar e fingir ser outra pessoa. Tem caso de
gente conhecida que caiu nesta armadilha, não a reconheceu e ficou um bom tempo
com raiva dela. Teve uma vez que estávamos em Castelhanos, era janeiro e estava
o maior calor. Fomos todos para a praia e vovó ficou para trás. A praia estava
cheia e eis que de repente chega uma senhora toda encapotada, com blusa de
frio, calça de lã, gorro, cachecol, se senta na areia e fica lá, observando o
mar. É lógico que todo mundo que passava parava para olhar. Então quando já era
o centro de todas as atenções a mulher se levanta e começa a fazer um Streep
tease até ficar só de maiô. Aí todos puderam ver que aquela maluca que estava
ali era minha avó que caiu na risada quando tudo terminou. Essa é só uma das
histórias de minha avó.
Outra curiosidade é que seu aniversário era no dia 06 de
fevereiro e, quando caía no carnaval, era carnaval em sua festa na certa. Todos
nós nos fantasiávamos. Ela adorava isto e adorava receber suas irmãs. Teve um
destes aniversários que ela se fantasiou de melindrosa e quando suas irmãs
estavam para chegar ela resolveu subir em cima do piano, se assentou, fez a
pose clássica de melindrosa com uma piteira na boca e pernas cruzadas e ficou
ali esperando. Foi a maior surpresa quando as irmãs chegaram e se depararam com
aquela cena.
Ela sempre aprontava e quando meu avô morreu, passado o
luto, vovó se esbaldou. Freqüentava o Sesc, fazia ioga, viajava e era uma
adepta do poder das pirâmides. Me lembro direitinho dela fazendo água
energizada de pirâmide. Teve uma vez em que o copo de cristal em que uma mini
pirâmide estava energizando uma água se espatifou sozinho... Bom, acreditem se
quiser, mas eu vi. Ela chegou até a comprar um aparelho para medir a aura das
pessoas. Virou uma especialista nisso. Tem um gesto com o dedo imitando uma
pirâmide que ela me ensinou e que me ajudou muito em diversas situações.
Sempre acolhedora, dava conselhos e também era brava às
vezes. Era uma casamenteira, sempre arrumando namorados para as netas.Tinha os
seus netos prediletos, hoje eu consigo visualizar isto, mas não conto aqui nem
que me batam; todos nós temos nossas afinidades e com ela não era diferente. Mas
acolhia a todos em sua casa. Quantos, na hora da precisão moraram com ela?
Tocava piano muito bem e “La Cumparsita” era uma de suas
músicas preferidas. Nos ensinou a bordar, fazer crochê, jogar baralho (um monte
de jogos) e tinha uma mania estranha de conversar com minha mãe na língua do
blu (blu, blu, blu, blu,blu....). Quando dava na telha ela ligava lá para casa
e ficava falando desse jeito. E minha mãe respondia prontamente. Não sei como,
mas elas se entendiam perfeitamente. Era blu, blu, blu para cá e blu, blu, blu
para lá. Acabavam a conversa em blu e morriam de rir. Simples assim mesmo.
Vovó era assim, intensa, humana, engraçada, era uma
verdadeira peça, literalmente. Por mais que eu quisesse contar tudo, todas as
histórias eu não conseguiria. Mesmo no auge de sua derradeira doença quando ela,
na maior parte do tempo sumia de todos nós, não é que de repente aqueles olhos
voltavam, ela fazia alguma graça e a gente podia viver um pouquinho dela ainda,
e isso nos servia naquela época imensamente, pois nestes momentos víamos que
vovó ainda estava por ali. Mas isto é muito triste e estou falando aqui de
alegria, pois vovó era a alegria em pessoa e sua essência ficou cravada em cada
um de nós. A vovó Pilar, a Pilar, a tia Pilar, a Pilarzinha tão querida,
conhecida e adorada por todos continua entre nós.
Tem uma frase que adoro e que descreve perfeitamente a
vovó e foi com esta frase que rendemos nossa última homenagem a ela.
“Nós só conseguimos ser felizes realmente quando conseguimos
rir de nós mesmos.”
Esta era a nossa avó.
OOOOOOOOOO SAUDADE!!!!!!
ResponderExcluirsó conheci uma avó, e gostaria q ela tivesse sido assim ... uma vó da pá virada ... rs ... delicinha ...
ResponderExcluirbjão
Ai Ivana que saudade viu, nossa vozinha linda faz uma falta, mas hj eu sei que sou alegre, feliz e sapeka pq puxei todo o brilho de nossa vozinha e fico muito feliz e orgulhosa te ter puxado a ela.......
ResponderExcluirContinue escrevendo nossas historias, pois estou amando relembrar, hj eu chorei viu??
BJIns
Vové era tudooooooooooooooooo!!!
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