O
MURO DA CASA DA VOVÓ
Acho que a
maioria das pessoas tem saudades de sua infância. Comigo também não é
diferente. Ainda mais que a minha infância ocorreu na década de 70, onde tudo,
tudo era diferente. Uma das coisas que me surpreende hoje, e eu me pego sempre
pensando nisso, é que não havia essa profusão de lojas de roupas. Havia algumas
butiques que eram para quem tinha muitoooooooo dinheiro. Mas, a meu ver, a
maioria das pessoas era como a gente, meio “pobre”, se vocês me entendem. O
negócio das roupas era comprar pano e fazer roupa em casa; mamãe costurava
muito bem e nossas roupas eram criações dela. Ou então roupas que ganhávamos de
uma tia rica; nossa, era uma festa quando ela mandava sacolas e sacolas de
roupas, dava até briga. Não estou dizendo aqui que não tínhamos dinheiro para
roupas, mas era um costume isso e não ficávamos nem um pouquinho com vergonha, muito
pelo contrário, adorávamos. Ahhh, lembro-me agora do Sr. Ludovico que era um
vendedor de roupas. Ele chegava com umas duas malas imensas e mamãe e as outras
tias faziam a festa.
Bom, mas
voltando à nossa infância, dentre outras coisas, para mim, o que mais a traduz
era o muro da casa da vovó. A casa da vovó em si era alguma coisa inexplicável
de tão deliciosa. Morávamos todos juntos ali. Era uma casa grande, imensa, com
um barracão atrás, um terreiro enorme, tão grande que cabia um palanque, que
meu avô comprou não sei para quê, mas naquela época tínhamos certeza de que ele
tinha comprado aquilo para brincarmos de casinha, apesar da sua intransigência
com essa nossa prática. Tinha um caramanchão e árvores. Ah, as árvores... acredita
que tinha um pé de Araçá (quem conhece Araçá?), um pé de Jurubeba (arrrgh), um
pé de Pêssego que tinha uma gangorra onde eu ficava horas gangorrando e
viajando, sem falar no pé de Caqui. Tinha tipo um jardim na frente, que teve
uma época que tinha um suporte para barco, ideal para nossas brincadeiras, e um
muro. Bem, um muro muito especial. Nada daqueles murinhos fininhos, bobinhos,
fraquinhos... não! Era um murão. Todo cheio de buracos redondos e bem, bem
largo. Do lado de dentro era só subir e sentar. Do lado de fora a gente punha o
pé nos buracos e sentava. Parece que muro foi feito para isso, para a gente
sentar. E como fazíamos isto. Ele era imenso! Tinha e tem até hoje outra casa
na mesma praça, a casa da Irma, com um muro baixinho que deveria ser melhor de
se sentar, mas o muro era cheio de fincos!!?? Parece que ela pôs os fincos
justamente para ninguém assentar ali. Ainda assim, bem que tentávamos, pois
éramos destemidos e corajosos mas era muito incômodo. Nem se comparava com o
nosso muro, ele dava de 10 a 0 no muro da Irma.
A nossa vida
era só brincar e da infância à adolescência o muro fez parte de nossas vidas.
Me lembro que a gente jantava lá pelas 7h e depois, rua. Ficávamos assentados
no muro conversando, brincando até que alguém chamava e, exaustos, íamos
dormir. Engraçado que pensei agora na televisão... Não é que não tinha, tinha
sim, mas não assistíamos, preferíamos brincar e muito. Já tinha até as novelas,
mas isso era coisa para adultos.
Tantos nomes me
vêm à cabeça agora, tantos colegas que a vida no seu curso fez questão de
afastar. Tantos episódios, tantas brincadeiras, a delícia de crescer entre
colegas, todos estudando no Bernardo Monteiro, porque escolas particulares era
coisa para os muito ricos. Era uma época de uma inocência sem fim. Quem até
hoje assiste ao Chaves pode ter uma idéia, mais ou menos, do que a gente vivia.
Hoje temos
mais conforto, mais informação, roupas mais bonitas (a gente usava batas
curtinhas), um montão de lojas para comprar, as casas estão mais seguras, casas
não, apartamentos né? Mas... eu, eu bem queria aquele muro novamente para eu me
assentar, só mais uma vez, só mais um pouquinho, só para
sentir, recordar...
êh Ivana, fazendo a gente chorar... que saudadesssssss... Não é pra ser saudosista, mas a qualidade de vida das crianças era infinitamente melhor. Nem tv, nem vídeo game. Era viver, criar as brincadeiras, se divertir, conversar, CONVIVER. Isso não tem preço.
ResponderExcluirTo amando seu blog. Obrigada por trazer isso pra todos nós que fizemos e ainda fazemos parte dessas histórias.
Bjo grande
Delicioso tudo isto, se vc tem saudades imagina eu q vivi minha infância nos anos 50 e minha adolescência nos anos 60. Em 50 nem tv existia, nem rádio de pilha, discos de vinil em radiolas, carro só taxi e importado, transporte era bonde e lotação, asfalto [?] era tudo terra e no máximo calçamento ... muitas árvores, quintais, frutas [pitanga, goiaba, jambo, mexerica]... adorava ouvir rádio, retratos em p&b, telefone preto com disco e interurbano via telefonista levava 30 horas para completar ... matinês nos cinemas, gibis ... é isto ... saudades mesmo ... vendo as fotos lembrei q tive um TL vermelho ... OMG!
ResponderExcluirbjão
Ai, ai,agora lembrei-me de mais coisas... todo domingo à tarde matinê no Cine Eldorado. Quando era domingo especial íamos ao São Josè; detalhe os dois na Rua Platina com diferença de 2 quarteirões. E dar a volta no quarteirão, quem lembra??? A vovó tinha 2 telefones pretos, extensão. Só que naquela época tinha uma chave que a gente virava quando queria falar de um dos telefones. Foi um marco quando lançaram os telefones de apertar.. Se a gente falar mais vão surgindo mais coisas ainda.E, Paulo, lembra do Car Manguia? Ahahhaha
ResponderExcluirIvana,estou adorando tudo isso!!! Na casa da vovó não tinha só telefone... tinha também manguefone lembra?? bjs
ResponderExcluir