Páginas

sábado, 14 de janeiro de 2012

O MURO DA CASA DA VOVÓ






O MURO DA CASA DA VOVÓ

     Acho que a maioria das pessoas tem saudades de sua infância. Comigo também não é diferente. Ainda mais que a minha infância ocorreu na década de 70, onde tudo, tudo era diferente. Uma das coisas que me surpreende hoje, e eu me pego sempre pensando nisso, é que não havia essa profusão de lojas de roupas. Havia algumas butiques que eram para quem tinha muitoooooooo dinheiro. Mas, a meu ver, a maioria das pessoas era como a gente, meio “pobre”, se vocês me entendem. O negócio das roupas era comprar pano e fazer roupa em casa; mamãe costurava muito bem e nossas roupas eram criações dela. Ou então roupas que ganhávamos de uma tia rica; nossa, era uma festa quando ela mandava sacolas e sacolas de roupas, dava até briga. Não estou dizendo aqui que não tínhamos dinheiro para roupas, mas era um costume isso e não ficávamos nem um pouquinho com vergonha, muito pelo contrário, adorávamos. Ahhh, lembro-me agora do Sr. Ludovico que era um vendedor de roupas. Ele chegava com umas duas malas imensas e mamãe e as outras tias faziam a festa.

   Bom, mas voltando à nossa infância, dentre outras coisas, para mim, o que mais a traduz era o muro da casa da vovó. A casa da vovó em si era alguma coisa inexplicável de tão deliciosa. Morávamos todos juntos ali. Era uma casa grande, imensa, com um barracão atrás, um terreiro enorme, tão grande que cabia um palanque, que meu avô comprou não sei para quê, mas naquela época tínhamos certeza de que ele tinha comprado aquilo para brincarmos de casinha, apesar da sua intransigência com essa nossa prática. Tinha um caramanchão e árvores. Ah, as árvores... acredita que tinha um pé de Araçá (quem conhece Araçá?), um pé de Jurubeba (arrrgh), um pé de Pêssego que tinha uma gangorra onde eu ficava horas gangorrando e viajando, sem falar no pé de Caqui. Tinha tipo um jardim na frente, que teve uma época que tinha um suporte para barco, ideal para nossas brincadeiras, e um muro. Bem, um muro muito especial. Nada daqueles murinhos fininhos, bobinhos, fraquinhos... não! Era um murão. Todo cheio de buracos redondos e bem, bem largo. Do lado de dentro era só subir e sentar. Do lado de fora a gente punha o pé nos buracos e sentava. Parece que muro foi feito para isso, para a gente sentar. E como fazíamos isto. Ele era imenso! Tinha e tem até hoje outra casa na mesma praça, a casa da Irma, com um muro baixinho que deveria ser melhor de se sentar, mas o muro era cheio de fincos!!?? Parece que ela pôs os fincos justamente para ninguém assentar ali. Ainda assim, bem que tentávamos, pois éramos destemidos e corajosos mas era muito incômodo. Nem se comparava com o nosso muro, ele dava de 10 a 0 no muro da Irma.

     A nossa vida era só brincar e da infância à adolescência o muro fez parte de nossas vidas. Me lembro que a gente jantava lá pelas 7h e depois, rua. Ficávamos assentados no muro conversando, brincando até que alguém chamava e, exaustos, íamos dormir. Engraçado que pensei agora na televisão... Não é que não tinha, tinha sim, mas não assistíamos, preferíamos brincar e muito. Já tinha até as novelas, mas isso era coisa para adultos.

   Tantos nomes me vêm à cabeça agora, tantos colegas que a vida no seu curso fez questão de afastar. Tantos episódios, tantas brincadeiras, a delícia de crescer entre colegas, todos estudando no Bernardo Monteiro, porque escolas particulares era coisa para os muito ricos. Era uma época de uma inocência sem fim. Quem até hoje assiste ao Chaves pode ter uma idéia, mais ou menos, do que a gente vivia.

     Hoje temos mais conforto, mais informação, roupas mais bonitas (a gente usava batas curtinhas), um montão de lojas para comprar, as casas estão mais seguras, casas não, apartamentos né? Mas... eu, eu bem queria aquele muro novamente para eu me assentar, só  mais uma vez, só mais um pouquinho, só para sentir, recordar...

4 comentários:

  1. êh Ivana, fazendo a gente chorar... que saudadesssssss... Não é pra ser saudosista, mas a qualidade de vida das crianças era infinitamente melhor. Nem tv, nem vídeo game. Era viver, criar as brincadeiras, se divertir, conversar, CONVIVER. Isso não tem preço.

    To amando seu blog. Obrigada por trazer isso pra todos nós que fizemos e ainda fazemos parte dessas histórias.

    Bjo grande

    ResponderExcluir
  2. Delicioso tudo isto, se vc tem saudades imagina eu q vivi minha infância nos anos 50 e minha adolescência nos anos 60. Em 50 nem tv existia, nem rádio de pilha, discos de vinil em radiolas, carro só taxi e importado, transporte era bonde e lotação, asfalto [?] era tudo terra e no máximo calçamento ... muitas árvores, quintais, frutas [pitanga, goiaba, jambo, mexerica]... adorava ouvir rádio, retratos em p&b, telefone preto com disco e interurbano via telefonista levava 30 horas para completar ... matinês nos cinemas, gibis ... é isto ... saudades mesmo ... vendo as fotos lembrei q tive um TL vermelho ... OMG!

    bjão

    ResponderExcluir
  3. Ai, ai,agora lembrei-me de mais coisas... todo domingo à tarde matinê no Cine Eldorado. Quando era domingo especial íamos ao São Josè; detalhe os dois na Rua Platina com diferença de 2 quarteirões. E dar a volta no quarteirão, quem lembra??? A vovó tinha 2 telefones pretos, extensão. Só que naquela época tinha uma chave que a gente virava quando queria falar de um dos telefones. Foi um marco quando lançaram os telefones de apertar.. Se a gente falar mais vão surgindo mais coisas ainda.E, Paulo, lembra do Car Manguia? Ahahhaha

    ResponderExcluir
  4. Ivana,estou adorando tudo isso!!! Na casa da vovó não tinha só telefone... tinha também manguefone lembra?? bjs

    ResponderExcluir